Muita gente sabe que Dom Casmurro é um clássico da literatura brasileira, mas poucos entendem de verdade o que essa obra tem de tão especial.
Neste post, vamos conversar sobre o que você precisa saber a respeito de Dom Casmurro: quem foi Machado de Assis, do que trata a história, quem são os personagens e por que esse romance é tão importante em nossa literatura. Sim, vamos falar também sobre Capitu e seus famosos “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”.
Vem comigo. Até o final deste post, você vai ter uma boa visão dessa obra genial.
Sobre o autor: quem foi Machado de Assis
Machado de Assis foi um dos escritores mais brilhantes da língua portuguesa. E isso não é exagero. Filho de um pintor de paredes e uma lavadeira, mulato, pobre, epilético e praticamente autodidata, ele superou os obstáculos que o Brasil do século XIX impunha para se tornar o maior nome da nossa literatura.
O autor nasceu em 1839 no Rio de Janeiro e viveu boa parte da vida no bairro do Cosme Velho. Foi jornalista, poeta, cronista, contista, dramaturgo e, claro, romancista. Escreveu obras importantes em diferentes fases da literatura, mas é no Realismo que ele mais se destacou, e é aí que entra Dom Casmurro, lançado em 1899.
O estilo de Machado é irônico, sutil, cheio de entrelinhas. Ele não entrega tudo de bandeja. Pelo contrário, nos provoca o tempo todo, faz perguntas, esconde intenções. Isso exige atenção de quem lê, mas também torna a experiência mais rica. Ler Machado é conversar com ele. Às vezes, até brigar com ele.
Além de Dom Casmurro, ele escreveu outros romances famosos, como Memórias Póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba. Mas é em Dom Casmurro que sua habilidade de explorar a mente humana chega ao auge.
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Sinopse de Dom Casmurro
O que acontece quando a memória não é confiável e o ciúme começa a distorcer a realidade? É mais ou menos por aí que Dom Casmurro nos leva. O narrador da história é Bentinho, já adulto, tentando reconstruir sua vida a partir das lembranças da juventude. E logo no começo, ele avisa: quer “atar as duas pontas da vida”, ou seja, entender o que deu errado.
A narrativa gira em torno do relacionamento dele com Capitu, amiga de infância, vizinha – e algo mais. Eles crescem juntos no subúrbio do Rio de Janeiro, nos tempos do Império. Ele, criado para ser padre por imposição da mãe. Ela, sagaz e decidida. Mas o que parecia ser uma história de amor vai tomando um rumo mais sombrio conforme as memórias de Bentinho avançam.
O interessante é o tom da narrativa: Bentinho conta tudo do seu jeito, do seu ponto de vista. Só que esse ponto de vista é duvidoso. O livro não entrega verdades absolutas, e isso faz cada leitor chegar a uma conclusão diferente – ou ficar em dúvida até o fim.
Dom Casmurro é um romance sobre dúvida, a fragilidade da memória e como podemos nos enganar – ou querer enganar os outros – quando contamos nossa própria história.
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Contexto histórico e literário de Dom Casmurro
Dom Casmurro foi publicado em 1899, no final do século XIX, numa época em que o Brasil estava passando por grandes mudanças. A escravidão tinha sido abolida pouco mais de uma década antes, a monarquia tinha acabado e a República ainda engatinhava. Era um país tentando se entender, e essa confusão social e política aparece, de forma sutil, na obra.
Machado de Assis escreveu o livro dentro do movimento do Realismo, que veio justamente para questionar os exageros do Romantismo. Aqui, os heróis idealizados e as histórias de amor puro dão lugar a personagens cheios de contradições, dúvidas e falhas. O foco não é mais o que as pessoas dizem, mas o que elas pensam e sentem, mesmo que não admitam.
Dom Casmurro mergulha nesse universo psicológico. A narrativa é introspectiva, reflexiva, cheia de ironia. O mundo externo – as ruas do Rio de Janeiro, os hábitos da elite carioca, os costumes religiosos – aparece, mas sempre como pano de fundo para os dilemas internos de Bentinho.
Outro ponto importante: o livro foi escrito em um momento em que Machado já estava no auge de sua maturidade literária. Ele sabia exatamente o que estava fazendo quando escolheu um narrador duvidoso, construiu personagens ambíguos e plantou incertezas em nossa cabeça.
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Personagens de Dom Casmurro
Os personagens de Dom Casmurro carregam camadas, intenções ocultas e atitudes que abrem espaço para interpretações – e também desconfiança. Vamos olhar mais de perto quem são essas figuras.
Bentinho (Dom Casmurro)
Bentinho é o narrador da história. Ele começa o livro já velho, tentando entender o próprio passado. O apelido “Dom Casmurro” vem dessa fase mais reclusa da vida, quando ele já está fechado em si mesmo, quase misantropo. Mas a maior parte da narrativa se passa quando ele é jovem.
Desde pequeno, Bentinho é criado para ser padre, algo que nunca quis. Vive em conflito entre o desejo de seguir o próprio caminho e as pressões familiares. É um personagem introspectivo, inseguro, muitas vezes dominado pelo ciúme. E é aí que a coisa complica: será que dá pra confiar em tudo que ele diz?
Machado constrói Bentinho de forma tão sutil que acabamos questionando tudo. O tempo todo. Ele é vítima? É paranoico? Está tentando nos manipular?
Capitu
Capitu é o grande enigma do livro. Inteligente, observadora, firme nas decisões. Desde a infância, demonstra ter personalidade forte. Bentinho se apaixona por ela ainda jovem, e esse sentimento guia boa parte da trama.
Mas o que realmente chama atenção em Capitu são os tais “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, uma frase que se tornou emblemática e que resume como Bentinho a vê: misteriosa e, talvez, falsa.
Só que Capitu nunca fala diretamente com a gente. Tudo o que sabemos dela vem da visão de Bentinho. E aí mora o mistério: será que ela é mesmo quem ele diz que é?
Escobar
Escobar entra na história como o melhor amigo de Bentinho. Os dois se conhecem no seminário e criam um laço de confiança e afeto. Escobar é racional, pragmático, bom de conversa. Uma figura aparentemente estável e confiável.
Só que, na cabeça de Bentinho, ele começa a se tornar algo mais: uma ameaça. Especialmente quando se aproxima demais de Capitu. A presença de Escobar é o que dá início a muitas das suspeitas que assombram o narrador.
Dona Glória
Mãe de Bentinho, Dona Glória é o retrato da devoção religiosa e da autoridade materna. Ela promete entregar o filho à Igreja antes mesmo de seu nascimento, uma promessa que molda toda a juventude de Bentinho.
Ela é carinhosa, sim, mas também inflexível. E essa rigidez religiosa pesa bastante nas decisões da família, afetando diretamente o futuro do protagonista.
José Dias
José Dias é aquele tipo de personagem que vive à sombra da casa, mas está sempre presente. Agregado da família, é um homem vaidoso, bajulador e cheio de opiniões. Gosta de parecer mais culto e importante do que realmente é.
Ele se intromete nas decisões da casa, inclusive nas conversas sobre o futuro de Bentinho e Capitu. Às vezes parece um aliado, outras vezes um manipulador disfarçado.
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Adaptações de Dom Casmurro para o cinema e a TV
Dom Casmurro já ganhou várias versões fora do papel, e não é à toa. A dúvida que o livro deixa no ar rende boas discussões, e isso atrai diretores, roteiristas e atores que querem colocar suas próprias interpretações na trama.
Uma das adaptações mais conhecidas é a minissérie Capitu, produzida pela TV Globo em 2008. Dirigida por Luiz Fernando Carvalho, ela trouxe um estilo visual bem marcante, com cenários teatrais e uma linguagem ousada.
Marco Ricca vive o Dom Casmurro velho, enquanto Michel Melamed interpreta o Bentinho jovem. Letícia Persiles fez o papel de Capitu, e a série, como o livro, não entrega nenhuma resposta fácil. Dá para assistir e sair com a mesma pulga atrás da orelha.
No cinema, temos o clássico Capitu (1968), dirigido por Paulo César Saraceni. A produção é mais fiel ao texto original, com foco na tensão psicológica entre os personagens.
Também vale mencionar Dom (2003), uma adaptação moderna da história, ambientada em São Paulo, que reimagina Bentinho e Capitu no mundo contemporâneo.
Mais recentemente, foi lançado Capitu e o Capítulo (2021), de Júlio Bressane, uma releitura autoral e bem experimental da obra. Não espere uma narrativa tradicional; o filme trabalha com imagens poéticas, cenas fragmentadas e um clima quase filosófico.
Mariana Ximenes interpreta Capitu e Vladimir Brichta faz Bentinho. É uma visão ousada e sensorial da história, que pode agradar quem curte um cinema fora do padrão.
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Por que ler Dom Casmurro
Alguns talvez pensem que Dom Casmurro é só uma leitura obrigatória da escola, mas a verdade é que esse livro entrega muito mais do que se espera. Ele nos prende, provoca e surpreende, e não, não é por causa da linguagem rebuscada ou do “valor histórico”. É por conta da forma como Machado de Assis escreveu.
Primeiro, tem o narrador. Bentinho não é confiável. Ele omite, distorce, dramatiza. Isso muda completamente a experiência de leitura. Você não está lendo “os fatos”, mas sim a versão de alguém sobre eles. E isso torna a história muito mais rica, porque te obriga a interpretar, questionar, duvidar.
Segundo, a estrutura do romance é extremamente moderna. Machado quebra a narrativa tradicional com interrupções, comentários ao leitor, digressões. Parece até que ele já sabia como seriam os romances do século XXI. Quem curte séries e filmes com tramas psicológicas ou narradores duvidosos vai se sentir em casa aqui.
E terceiro: o texto é irônico, inteligente, cheio de sutilezas. Não tem exagero, não tem dramalhão. É fino, seco e certeiro. A graça está nos detalhes, nas entrelinhas. Cada parágrafo parece ter uma armadilha, e precisamos ficar espertos para não cairmos.
Então, por que ler Dom Casmurro? Porque é uma obra que desafia. Que te faz pensar, desconfiar, reler. E que mostra como a literatura pode ser complexa sem ser chata. Profunda sem ser pretensiosa.
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Onde comprar Dom Casmurro
Dom Casmurro não é um livro fácil, mas essa é justamente a graça. Ele nos desafia o tempo todo, seja pelo estilo narrativo, pela ambiguidade dos personagens ou pela forma como trata a memória e o ciúme. É um romance que vai muito além da simples pergunta “Capitu traiu ou não?”. A real é que Machado de Assis criou uma história em que não existe uma resposta definitiva; só interpretações.
Se você gosta de livros que fazem pensar e brincam com a sua percepção, Dom Casmurro merece entrar para a sua lista. Depois da leitura, dificilmente você vai olhar para qualquer narrador do mesmo jeito.
Quer tirar suas próprias conclusões sobre Dom Casmurro e Capitu? Então vale muito a pena ter o livro em mãos. Há edições com comentários, notas explicativas e capas incríveis; algumas bem acessíveis, outras com acabamento de colecionador.
Adquira abaixo sua edição de Dom Casmurro e conheça esse clássico da literatura brasileira.
Perguntas frequentes sobre Dom Casmurro
1. Qual é a história do livro Dom Casmurro?
O livro narra a vida de Bentinho, que relembra sua juventude e seu relacionamento com Capitu, levantando dúvidas sobre amor, ciúme e traição.
2. Capitu traiu Bentinho?
Essa é a grande dúvida da obra. Tudo é contado pela visão de Bentinho, um narrador que não é confiável.
3. O que significa o nome Dom Casmurro?
“Dom” é um título irônico. “Casmurro” significa alguém fechado, calado e rabugento, características do Bentinho mais velho, que narra a história.
4. Quem são os principais personagens?
Bentinho (o narrador), Capitu (sua amiga e amor de infância), Escobar (amigo de Bentinho), Dona Glória (mãe de Bentinho) e José Dias (agregado da família).
5. O livro tem adaptações para a TV e o cinema?
Sim. As mais conhecidas são a minissérie Capitu (2008), o filme Capitu (1968), Dom (2003) e o recente Capitu e o Capítulo (2021), uma releitura experimental.
6. Vale a pena ler Dom Casmurro?
Vale, sim. Pela linguagem refinada, estrutura moderna, personagens ambíguos e o desafio que a obra propõe ao leitor.