Os personagens de Dom Casmurro são a pedra angular de uma das narrativas mais ambíguas da literatura brasileira. São peças de um quebra-cabeça psicológico e emocional que levanta perguntas como: Capitu traiu? Bentinho é confiável? Quem manipula quem?
Neste artigo, você vai conhecer 11 personagens da obra e entender a participação de cada um na história. Vamos analisar as relações, os conflitos e as pistas (ou armadilhas) deixadas por Machado de Assis. E talvez, só talvez, você saia com uma visão diferente do que achava sobre essa trama.
Preparado para repensar tudo o que você já ouviu sobre Capitu e Bentinho?
Quem são os 11 personagens de Dom Casmurro
Os personagens de Dom Casmurro formam uma rede de relações cheia de amor, ciúme, manipulação e dúvida. Cada um tem um papel decisivo na construção da narrativa, seja reforçando a visão de Bentinho ou deixando brechas para questionarmos tudo.
1. Bentinho (Dom Casmurro)
Bentinho, mais tarde chamado de Dom Casmurro, é o narrador e protagonista da história. Filho único de Dona Glória, cresce sob a promessa materna de ser padre — promessa que, desde cedo, o coloca em conflito entre a obediência e seus desejos pessoais. Esse peso religioso e moral marca sua formação, gerando inseguranças que se refletem em toda a vida adulta.
Mesmo depois de escapar do seminário e se casar com Capitu, Bentinho nunca consegue se libertar da dúvida. Sua visão de mundo é atravessada por ciúme, paranoia e insegurança. Ele se compara constantemente com Escobar, mais confiante e bem-sucedido, o que aprofunda seu sentimento de inadequação.
Como narrador, Bentinho é famoso por ser não confiável. Nós lemos sua versão dos fatos, mas a narrativa é cheia de lacunas, contradições e interpretações subjetivas. É ele quem pinta Capitu como dissimulada, e nunca temos certeza se isso é realidade ou fruto de seu olhar distorcido. Essa ambiguidade faz de Dom Casmurro uma obra aberta, onde a verdade está sempre em disputa.
Leia também:
2. Capitu (Capitolina de Pádua)
Capitu é, sem dúvida, a personagem mais enigmática da literatura brasileira. Inteligente, perspicaz e dona de um olhar descrito como “oblíquo e dissimulado”, ela nos conquista tanto quanto nos intriga. Desde a juventude, ela mostra uma capacidade de adaptação social incomum: filha de uma família modesta, consegue transitar no universo da elite de Bentinho sem perder sua autenticidade.
Casada com Bentinho, torna-se alvo de suas desconfianças, principalmente após a aproximação com Escobar. O suposto adultério nunca é confirmado, mas o peso das suspeitas a transforma em símbolo da dúvida. Para alguns, Capitu representa a mulher livre e independente, capaz de desafiar o olhar masculino. Para outros, encarna a figura da tentação e da traição.
Capitu é um enigma construído por Machado para nunca ser totalmente decifrado. Sua força silenciosa contrasta com a fragilidade emocional de Bentinho, e é justamente esse contraste que mantém viva a polêmica: Capitu traiu ou não traiu? A resposta depende menos dela e mais do nosso ponto de vista como leitores.
3. Dona Glória
Mãe de Bentinho, Dona Glória é uma viúva devota que fez a promessa de dedicar o filho à Igreja. Ela representa a tradição familiar e religiosa da época, mas, ao mesmo tempo, acaba cedendo à pressão emocional de Bentinho, permitindo que ele abandone o seminário e siga o casamento com Capitu. Sua postura protetora contrasta com a insegurança do filho.
4. José Dias
Agregado da família de Dona Glória, José Dias é uma figura interessante. Ele representa o tipo social do dependente no Brasil do século XIX: pessoas sem fortuna própria que viviam nas casas das famílias de elite, oferecendo serviços, conselhos ou favores em troca de sustento e prestígio.
No enredo, José Dias exerce forte influência sobre Bentinho e Dona Glória. Bajulador e ao mesmo tempo um crítico mordaz, sua presença na casa mistura subserviência e poder. Ele é uma espécie de espelho da sociedade patriarcal da época, onde a lealdade podia ser interesseira e a hierarquia familiar se estendia para além dos laços de sangue.
5. Escobar (Ezequiel de Sousa Escobar)
Escobar conhece Bentinho no seminário, onde os dois se tornam grandes amigos. Inteligente, carismático e pragmático, ele logo abandona a vida religiosa para se dedicar ao comércio, alcançando sucesso financeiro. Casa-se com Sancha, mas mantém proximidade com Bentinho e Capitu.
É em torno de Escobar que surge a maior dúvida do livro: teria ele vivido um romance secreto com Capitu? A suspeita de Bentinho de que o filho Ezequiel seria, na verdade, fruto dessa relação, alimenta a ambiguidade que permeia toda a narrativa.
Leia também:
6. Pádua
Pai de Capitu, funcionário público simples, Pádua é um homem respeitável, mas de posição social inferior à de Dona Glória. Ele representa a ascensão da classe média urbana do Rio de Janeiro no século XIX, que buscava reconhecimento e estabilidade por meio de alianças familiares. Em sua relação com Bentinho, é evidente a cordialidade, mas também certa diferença de status social.
7. Dona Fortunata
Mãe de Capitu, Dona Fortunata é discreta e de fala mansa, e cumpre um papel fundamental na formação da filha. Ela reforça o ambiente familiar modesto, contrastando com a casa de Bentinho. Sua figura materna transmite acolhimento e afetividade, complementando o retrato da família Pádua como símbolo de uma nova classe em crescimento na sociedade carioca.
8. Tio Cosme
Tio de Bentinho e irmão de Dona Glória, Cosme é um advogado aposentado que vive na mesma casa da família. Apresentado como um homem corpulento e acomodado, ele personifica a rotina e a tradição. Sua presença acrescenta ao romance o retrato de uma elite que envelhece em meio à inércia, sem grandes mudanças ou ambições.
9. Prima Justina
Prima distante de Dona Glória, mora também na casa de Bentinho. Rabugenta e crítica, Justina comenta e julga discretamente a vida alheia, funcionando como um retrato das tensões internas de uma casa tradicional do século XIX. Sua figura reforça o ambiente de observação permanente, onde ninguém escapa dos olhares e das fofocas.
10. Sancha
Esposa de Escobar, Sancha é uma personagem secundária, mas importante. Amiga de Capitu, representa o papel esperado das mulheres da época: dedicada à família e ao lar. Sua convivência com Bentinho e Capitu, entretanto, cria paralelos sutis entre os casais, reforçando os laços de confiança e, ao mesmo tempo, as sementes da suspeita.
Leia também:
11. Ezequiel
Filho de Capitu e supostamente de Bentinho, Ezequiel é um dos maiores pontos de tensão do romance. Sua semelhança física com Escobar é usada por Bentinho como indício de traição, mas o texto nunca confirma nada.
Para muitos leitores, Ezequiel simboliza a consequência das obsessões de Bentinho: um filho que sofre pela dúvida paterna e pela sombra de uma suspeita nunca comprovada.
Temas desenvolvidos a partir dos personagens
Os personagens de Dom Casmurro carregam símbolos, tensões e reflexos da sociedade do século XIX. Através de suas atitudes, palavras e silêncios, Machado de Assis desenvolve temas como ciúme, memória, identidade e desigualdade social.
Ciúme e obsessão
O ciúme de Bentinho é o cerne da narrativa. Sua obsessão por Capitu e, depois, por Escobar, revela como a insegurança pessoal pode corroer até os vínculos mais fortes. Esse tema se conecta à tradição literária de figuras como Otelo, mas ganha aqui um viés psicológico, pois nunca sabemos se a ameaça é real ou apenas fruto da imaginação do narrador.
Memória e narrador não confiável
A obra é apresentada como uma tentativa de Bentinho de “atar as duas pontas da vida” e contar sua história. Mas a memória, seletiva e falha, distorce os fatos. Ao mesmo tempo em que narra, ele julga, interpreta e preenche lacunas, criando um relato que mistura lembrança e ficção. Essa incerteza nos transforma em juízes.
Identidade e papel social
Enquanto Bentinho encarna a elite tradicional marcada pela religião e pela herança, Capitu representa a mobilidade social: filha de um funcionário público, consegue ascender pela inteligência e pelo casamento. Escobar, por sua vez, é o retrato do novo homem urbano de sucesso. Essas diferenças de origem e status determinam os conflitos e mostram uma sociedade em transformação.
Gênero e crítica à visão feminina
Capitu é construída sob o olhar de Bentinho, o que já traz um viés crítico: vemos uma mulher julgada e narrada por um homem ciumento. Ao mesmo tempo, sua força silenciosa rompe com a imagem da mulher submissa, fazendo dela uma das primeiras personagens femininas complexas da literatura brasileira.
Leia também:
O que faz Dom Casmurro ser tão enigmático
O maior enigma de Dom Casmurro é a dúvida que Machado de Assis nunca resolve: Capitu traiu ou Bentinho inventou? A narrativa é construída de forma a nos deixar em suspenso, sem uma resposta definitiva. Essa ambiguidade faz do romance um clássico eterno.
O final aberto
Diferente de muitos romances de sua época, Machado não entrega uma conclusão clara. Ao contrário, ele planta pistas contraditórias e nos deixa decidir. Esse final aberto torna a experiência de leitura ativa: cada interpretação revela mais sobre quem lê do que sobre os personagens.
Comparações literárias
Muitos críticos aproximam Dom Casmurro de Otelo, de Shakespeare, já que ambos exploram o ciúme masculino e suas consequências. Mas enquanto Otelo tem a confirmação da traição, Bentinho nunca prova nada. Esse detalhe transforma a história brasileira em algo ainda mais inquietante.
Infográfico: linha do tempo de Bentinho e Capitu.
Leia também:
Por que ler Dom Casmurro
Os personagens de Dom Casmurro formam um mosaico da sociedade carioca do século XIX, mas também funcionam como símbolos de conflitos humanos universais. Bentinho é o narrador ciumento e inseguro; Capitu, a mulher enigmática que desafia estereótipos; Escobar, o amigo transformado em rival; José Dias, o agregado bajulador; Dona Glória, a mãe protetora, e tantos outros que completam esse retrato social.
Algo que torna o livro inesquecível é que esses personagens revelam muito mais do que aparentam. Machado de Assis não entrega certezas, mas oferece dúvidas, silêncios e contradições. Dessa forma, Dom Casmurro desperta paixões, debates e interpretações.
Que tal tirar suas próprias conclusões sobre Capitu e Bentinho? Não há resumo que substitua a experiência da leitura. Adquira o livro Dom Casmurro agora mesmo!
FAQ: Dom Casmurro
1. Capitu traiu Bentinho?
O livro nunca confirma a traição de Capitu. A dúvida faz parte da estratégia narrativa de Machado de Assis: cabe ao leitor decidir se ela foi infiel ou se tudo não passa de paranoia de Bentinho.
2. O narrador é confiável?
O apelido “Dom Casmurro” vem do início do livro, quando o narrador explica que “casmurro” significa fechado, calado, introspectivo. O título já nos prepara para sua visão amarga e desconfiada da vida.
3. Qual o papel de José Dias na história?
José Dias é o agregado da família de Dona Glória. Ele simboliza a figura dos dependentes no Brasil do século XIX: bajulador e influente, mistura subserviência e poder, interferindo em decisões importantes da família.
4. Quem é Escobar em Dom Casmurro?
Escobar é amigo de Bentinho desde o seminário e se torna um comerciante de sucesso. Sua amizade próxima com Capitu levanta a suspeita de adultério, tornando-o uma peça central nas desconfianças de Bentinho.
5. Qual é a importância de Ezequiel na história?
Ezequiel é o filho de Capitu e supostamente de Bentinho. Sua semelhança física com Escobar aumenta as suspeitas de traição. Ele simboliza o peso do ciúme paterno e a consequência real das dúvidas de Bentinho.
6. Como o contexto histórico influencia os personagens?
Ambientado no Rio de Janeiro do século XIX, o romance reflete valores da época: a promessa religiosa, o peso da honra, o papel da mulher e as hierarquias sociais. Esses elementos impactam as escolhas e os conflitos de cada personagem.