Já ouviu falar de Earth Abides? A série pós-apocalíptica acabou de chegar ao Prime Video, mas o que quase ninguém sabe é que ela nasceu de um livro escrito em 1949, que nunca ganhou uma tradução oficial para o português. Isso mesmo: um clássico da ficção científica, esquecido por aqui, mas cultuado lá fora.
Neste post, você vai entender por que Earth Abides está chamando tanta atenção. Vamos falar sobre o livro, o autor (sobre quem você provavelmente também nunca ouviu falar), os personagens, os temas e, claro, a série.
Se você curte distopias mais reflexivas – tipo aquelas que fazem a gente parar pra pensar na civilização, na memória cultural, no futuro da humanidade – então este post é pra você.
Mas vamos por partes. Antes de tudo, bora falar da série que despertou todo esse interesse.
A série de TV: Earth Abides no Prime Video
A série Earth Abides estreou discretamente no Brasil em fevereiro, pelo canal MGM+, disponível no Prime Video. Mesmo sem tanto alarde, ela logo chamou atenção de quem curte boas histórias pós-apocalípticas, daquelas que não se apoiam em ação desenfreada ou zumbis, mas sim em dilemas humanos reais.
A trama acompanha Ish, um geólogo que sobrevive a uma praga que praticamente apaga a humanidade do mapa. Em vez de tentar salvar o mundo como um herói de algum filme famoso, ele caminha por cidades vazias tentando entender o que sobrou… e o que ainda vale a pena reconstruir.
A adaptação tem 6 episódios, foi criada por Todd Komarnicki e tem no elenco nomes como Alexander Ludwig (de Vikings) no papel principal.
A produção é enxuta, com foco mais emocional do que visual. Não espere explosões, mas sim conversas sobre cultura, sobrevivência, perda e futuro. A série não tenta “modernizar” o livro, e isso é ótimo. Ela respeita o tom original, com aquele ritmo contemplativo que nem todo mundo tem paciência para acompanhar, mas que conquista quem curte pensar enquanto assiste.
E uma curiosidade: apesar de o livro nunca ter sido publicado em português, a série ganhou o título A Terra Permanece em algumas plataformas de streaming. Se você procurar por esse nome, talvez a encontre mais facilmente.
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O livro original: um clássico da ficção científica
Antes da série, veio o livro. Earth Abides foi publicado em 1949, nos Estados Unidos, e é considerado um dos pilares da ficção científica pós-apocalíptica.
Escrito por George R. Stewart, o romance foge completamente do estilo “ação e catástrofe” que domina o gênero hoje. Em vez disso, aposta em uma abordagem mais filosófica: o que acontece com a humanidade quando a civilização desaparece?
A história se passa nos Estados Unidos, logo após uma praga dizimar quase toda a população. Ish, o protagonista, sobrevive e começa a andar por um país vazio, observando a degradação das cidades, das estruturas sociais e até da linguagem.
Aos poucos, ele se junta a outros sobreviventes e tenta, com eles, formar uma nova comunidade. Mas o que realmente sobrevive ao fim do mundo? É isso que o livro se propõe a explorar.
Apesar de ser uma obra premiada (venceu o primeiro International Fantasy Award em 1951), Earth Abides nunca foi traduzido oficialmente para o português. No Brasil, o livro circula apenas em edições importadas ou em versões digitais em inglês. Mesmo assim, ele tem fãs fiéis, especialmente entre leitores que gostam de distopias mais existenciais, como Admirável Mundo Novo ou Estação Perdido.
E se você é fã do Stephen King, vale saber: ele já declarou que Earth Abides foi uma das grandes influências por trás de The Stand (A Dança da Morte). Ou seja, essa é daquelas obras que impactaram o gênero, só que pouca gente por aqui conhece.
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O autor de Earth Abides: George R. Stewart
George R. Stewart não é exatamente um nome popular entre os leitores brasileiros, o que é uma pena, porque ele foi um escritor bem à frente do seu tempo.
Nascido em 1895 na Califórnia, Stewart era professor de literatura na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Mas seu interesse ia muito além das letras: ele escrevia sobre história, ecologia, geografia e até linguística. Isso tudo aparece, de um jeito ou de outro, em Earth Abides.
Ele era obcecado por entender como a humanidade se relaciona com o meio ambiente, não no sentido “verde” que associamos ao termo hoje, mas no sentido mais amplo: como a paisagem define a cultura, como nomes de lugares surgem e desaparecem, como as ideias se fixam ou somem com o tempo.
Antes de escrever Earth Abides, Stewart já tinha publicado livros como Storm (1941), que é basicamente a biografia de uma tempestade e foi uma das primeiras obras a nomear um fenômeno climático como se fosse um personagem, algo que influenciou a forma como hoje damos nomes a furacões.
Ele também escreveu Names on the Land, um estudo fascinante sobre a origem dos nomes de lugares nos Estados Unidos.
Mas foi com Earth Abides que ele realmente marcou presença na ficção especulativa. A obra tem cara de romance, mas por trás dela está a cabeça de um acadêmico curioso que queria levantar questões sobre tempo, memória e o que, de fato, permanece.
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Sinopse de Earth Abides
A premissa de Earth Abides é simples, mas interessantíssima: uma praga misteriosa se espalha pelo mundo e praticamente acaba com a civilização. Sem internet, sem governo, sem vizinhos. Só silêncio. Isherwood Williams, ou Ish, como é chamado, sobrevive e se vê completamente sozinho em uma cidade vazia.
Ao invés de sair correndo em busca de ação ou respostas, Ish observa. Caminha pelas ruas, visita bibliotecas abandonadas, pensa no que está acontecendo com o mundo. Ele não está tentando salvar ninguém; está tentando entender. E isso já torna o livro muito diferente do que estamos acostumados a ver em histórias de “fim do mundo”.
Com o tempo, ele encontra outros sobreviventes e percebe que o desafio não é só físico, mas cultural: como reconstruir uma sociedade quando quase todo o conhecimento acumulado desapareceu? O que ensinar para as novas gerações? Vale a pena tentar manter as velhas ideias vivas ou é melhor deixar que um novo mundo surja?
A narrativa avança por anos – décadas, na verdade – e mostra não só a trajetória de Ish, mas também o nascimento de uma nova comunidade, suas dificuldades, suas escolhas e, acima de tudo, suas perdas. A doença é só o ponto de partida. O foco do livro está no que vem depois: a lenta e inevitável transformação daquilo que chamamos de “civilização”.
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Personagens de Earth Abides
Os personagens de Earth Abides são poucos, mas bem desenvolvidos. A narrativa gira em torno principalmente de Ish, mas quem está ao redor dele ajuda a mostrar o que muda – e o que permanece – em um mundo sem estrutura social.
Isherwood “Ish” Williams
É o protagonista e o olhar racional da história. Ish é um geógrafo, um cara que pensa demais, observa o mundo como se estivesse estudando um experimento. Ele tenta preservar o conhecimento da civilização, mas logo percebe que isso pode não ter o valor que ele imaginava. Ele não é um herói tradicional; é introspectivo, às vezes frustrado, e muito humano.
Emma
É uma das primeiras pessoas que Ish encontra após o colapso. Ela é prática, empática e, de certa forma, o coração da nova comunidade que se forma. Enquanto Ish pensa em salvar livros e ensinar história, Emma se preocupa com o bem-estar das pessoas. Ela representa o lado humano, emocional, afetivo da reconstrução.
Joey
Joey simboliza a nova geração, aquela que cresce sem conhecer o mundo “de antes”. Ele é inteligente, mas tem uma visão completamente diferente do pai. Isso gera conflitos interessantes, especialmente quando Ish percebe que o que ele quer preservar pode não significar nada para quem está crescendo num mundo novo.
Ezra, George e outros membros do grupo
Esses personagens ajudam a compor a pequena sociedade pós-catástrofe. Cada um tem uma visão de mundo, uma função prática ou simbólica. Eles mostram como, mesmo com um grupo pequeno, surgem conflitos, alianças, papéis sociais e até superstições.
Earth Abides não tem um grande elenco nem vilões caricatos. Os “inimigos” aqui são o tempo, o esquecimento e a inevitável transformação das coisas.
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Temas abordados em Earth Abides
Mesmo sendo uma história pós-apocalíptica, o foco de Earth Abides não está na tragédia em si, mas no que acontece quando a poeira baixa. E aí começam as perguntas desconfortáveis.
O fim da civilização não é o fim da humanidade?
O livro mostra que a civilização moderna é mais frágil do que parece. A energia elétrica some. As estradas se desmancham. Os livros viram pó. Mas as pessoas continuam; de outro jeito, em outro ritmo. A pergunta que paira o tempo todo é: o que vale a pena preservar?
O tempo como força silenciosa
O tempo é quase um personagem aqui. Tudo vai desaparecendo, aos poucos: a linguagem, as tradições, até o próprio sentido de comunidade. O livro mostra isso com calma, sem pressa. E dá um certo desconforto perceber que o mundo segue, mesmo sem a gente.
Conhecimento versus sobrevivência
Ish acredita que é essencial salvar o conhecimento – ensinar ciências, matemática, história. Mas o grupo em sua volta parece mais preocupado com ferramentas, comida e abrigo. É constante o conflito entre manter o que era ou aceitar o que está nascendo.
Natureza e permanência
Com a humanidade fora do caminho, a natureza toma o controle. Animais voltam. Plantas cobrem prédios. O planeta continua. O título do livro, inclusive, vem da Bíblia: “A terra permanece para sempre.”
Earth Abides não tenta dar respostas prontas. Ele cutuca, propõe reflexões e te deixa pensando por dias depois de fechar o livro.
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Por que ler (ou assistir) Earth Abides hoje?
Se você está cansado de histórias apocalípticas que parecem videogames com diálogos, Earth Abides é uma pausa bem-vinda. É o tipo de narrativa que desacelera e te faz pensar. E isso tem muito valor, especialmente no mundo de hoje.
Depois de tudo o que vivemos nos últimos anos (pandemia, crises, colapsos ambientais batendo na porta), a proposta do livro soa mais atual do que nunca: o que, de verdade, vale a pena manter quando todo o resto desaba? Não é uma pergunta que se responde rápido. Earth Abides não tenta resolver isso por você, mas te convida a pensar junto.
A série, por sua vez, faz um ótimo trabalho em adaptar esse tom para a TV. Em vez de exagerar nos efeitos ou forçar um romance, ela mantém o espírito do livro: focar nas pessoas, nas ideias, no silêncio. É lenta? Sim. Mas é o tipo de lentidão que diz muito se você estiver disposto a ouvir.
Além disso, pouca gente por aqui conhece essa obra. Ler (ou assistir) Earth Abides é também uma oportunidade de descobrir um clássico que passou batido no Brasil, mas que ajudou a definir o gênero em outros países. E, quem sabe, até inspirar uma tradução futura.
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Curiosidades sobre Earth Abides
Mesmo que Earth Abides seja praticamente desconhecido por aqui, lá fora ele é tratado como uma obra influente, especialmente entre escritores de ficção científica e fãs de histórias pós-apocalípticas mais sérias.
Stephen King é fã declarado
Em entrevistas, King já mencionou Earth Abides como uma das grandes inspirações para The Stand. A influência é clara: em vez de batalhas épicas, o foco está nas pessoas tentando encontrar sentido num mundo esvaziado.
Título com origem bíblica
O título vem do livro de Eclesiastes, nas Escrituras Hebraicas: “Uma geração vai e outra geração vem, mas a terra permanece para sempre” (Eclesiastes 1:4). Isso já dá o tom do livro; não se trata de ação, mas de permanência, de ciclos, de memória.
Adaptações anteriores nunca vingaram
Durante os anos 1970 e 80, Earth Abides foi cogitado para adaptações em rádio e TV nos EUA, mas nenhum projeto saiu do papel. A minissérie lançada pela MGM+ em 2024 é a primeira adaptação completa da obra – um feito, considerando o tom introspectivo do livro.
Influência acadêmica
Além do meio literário, o livro também foi discutido em áreas como urbanismo, sociologia e ecologia. O olhar de Stewart sobre o desaparecimento da infraestrutura urbana é realista e chamou a atenção de pesquisadores que estudam colapsos de sistemas sociais.
Por que nunca foi traduzido no Brasil?
Essa é uma pergunta sem resposta clara. Pode ter sido falta de apelo comercial, ou o tom filosófico da obra pode ter afastado as editoras. Mas agora, com a série no ar, talvez isso mude.
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Vale a pena conhecer Earth Abides?
Sim, vale, e muito. Earth Abides é uma reflexão calma, quase silenciosa, sobre tudo o que construímos como sociedade e o que realmente importa quando tudo isso desaparece. A nova série no Prime Video é uma boa porta de entrada, mas o livro oferece uma profundidade que você dificilmente vai encontrar em outras histórias do gênero.
Se você gosta de uma ficção científica mais humana, que cutuca sem gritar, que te deixa pensando depois da última página, esse clássico esquecido vai te surpreender. Ele nunca foi lançado em português, o que é uma pena, mas isso também significa que você pode ser um dos poucos leitores brasileiros a descobrir essa joia literária.
Quer ler Earth Abides? Adquira o livro em inglês e conheça a obra original que inspirou a série.
Earth Abides: Perguntas Frequentes (FAQ)
1. O que significa Earth Abides?
É uma expressão bíblica que aparece em Eclesiastes 1:4: “A terra permanece para sempre” O título resume a ideia central do livro: a natureza continua, mesmo quando a humanidade desaparece.
2. Existe tradução em português do livro Earth Abides?
Não. O livro nunca foi traduzido oficialmente para o português e não foi lançado por nenhuma editora brasileira até o momento.
3. Quantos livros existem na série Earth Abides?
Apenas um. Earth Abides é um romance único, sem continuações.
4. Preciso ler o livro para entender a série?
Não. A minissérie é autossuficiente, mas ler o livro oferece uma experiência muito mais rica e profunda sobre os temas abordados.
5. Onde assistir à série Earth Abides no Brasil?
A série está disponível no Brasil através do canal MGM+, acessível pelo Prime Video com uma assinatura adicional.
6. Quem é o autor de Earth Abides?
George R. Stewart, escritor e professor norte-americano conhecido por suas obras sobre história, ecologia e sociedade. Earth Abides é sua obra mais famosa.
7. O que torna Earth Abides diferente de outras histórias pós-apocalípticas?
O foco não está em ação, mas em reflexão. Em vez de batalhas, a narrativa explora o tempo, a memória cultural, a reconstrução da sociedade e a permanência da natureza.